A classificação para a final da Copa do Brasil, na forma e nas condições em que aconteceu, fez despertar no íntimo de cada atleticano um sentimento ímpar, misto de felicidade, orgulho, tesão e resgate do que há de mais emblemático e raiz naquilo que cada Galista apaixonado chama de atleticanidade.
Com um olho no peixe e o outro no gato, pois três dias depois fará o primeiro jogo da semifinal da Libertadores contra o poderoso River Plate, o Galo foi a São Januário e, debaixo de um temporal, enfrentou a melhor e mais intensa atuação do Vasco em 2024. Era o jogo do ano para o cruzmaltino.
Claro que era também, para o Galo, o jogo mais importante da temporada. No papel, apesar dos desfalques e dos conhecidos desequilíbrios do elenco, o time do Atlético era melhor tecnicamente. O Vasco começou ligado e foi para cima do Galo no clima de sua incendiada torcida, enquanto o Glorioso buscava se ajustar. E, quando se ajustou, foi melhor até o pênalti para o adversário.
O Vasco se rearrumou no intervalo e veio melhor no segundo tempo. O Atlético, com menos saúde física, um time mais desgastado, maior média de idade e maior número de jogadores pesados, jogou taticamente para não correr riscos e buscar o gol que lhe daria a classificação. E ele veio com Hulk.
Para muitos, disputar simultaneamente duas semifinais importantes é uma missão dura, pesada e, por que não, ingrata também. Não deixa de ser verdade. Entretanto, os confrontos diante do Gigante da Colina, exatamente pela importância e peso que tiveram, acabam, no meu entender, funcionando como catalisadores de efeitos positivos para o Galo em seus dois confrontos contra o River Plate.
Ora, cada jogo, cada batalha, agrega ao elenco atleticano mais casca, mais capacidade de resiliência, mais jogo de cintura para enfrentar as armadilhas, os maus momentos, as adversidades naturais e antinaturais de cada jogo, de cada decisão.
No artigo “Entre Trancos e Barrancos, o Galo afina o bico e se aproxima da Glória Eterna”, publicado em 27 de setembro no Arquibancada do Galo, escrevi que o desafio de disputar duas semifinais quase que simultaneamente, fazendo em ambas o último e decisivo jogo de volta fora de casa, é enorme, é pesado, mas não impossível de ser enfrentado pelo Maior de Minas.
Na Copa do Brasil, o Atlético já me deu razão. E acrescentei ainda que a missão alvinegra na maior competição do continente era e continua sendo bastante espinhosa, uma vez que não está em jogo apenas o título de campeão, mas também, e principalmente, uma vaga em dois mundiais interclubes, um deles um supercampeonato, o maior de todos os tempos que distribuirá os prêmios mais polpudos da história do futebol.
Com tantos interesses se entrechocando, esse mata-mata diante dos “Milionários” argentinos promete ser, se não o maior duelo da história atleticana, o maior desafio deste século até então. E olha que, em seguida, sem tempo para relaxar, o Galo já terá pela frente uma decisão para ninguém botar defeito: os dois jogos da grande final da Copa do Brasil contra o seu maior rival nacional, o todo-poderoso Flamengo.
Nunca uma expressão foi tão apropriada para descrever a campanha de um time de futebol como “entre trancos e barrancos”. Desde o início desta temporada, já se via que este seria um ano pontuado por altos e baixos, por momentos ruins e outros épicos. Houve uma troca de comando técnico e, por mais que essa medida se mostre necessária, ela sempre acarreta descontinuidade e um tempo para que o novo trabalho comece a dar frutos. E isso sempre cobra um preço.
Além disso, o péssimo planejamento do elenco e suas implicações tiraram pontos preciosos do Atlético no Brasileirão, afastando o Glorioso da disputa do título máximo do futebol brasileiro. Contusões, suspensões, convocações e um desgaste inevitável, em razão da disputa simultânea de três competições pesadas e com características diferentes entre si, fruto de um calendário insano e perverso, intercalado com viagens longas e logística complicada, também estão na raiz das oscilações do time atleticano ao longo da temporada.
Também entre trancos e barrancos, o Atlético se reforçou bem. E aqui, a bem da verdade e da justiça, há que se elogiar quem indicou, quem negociou e quem logrou contratar Lyanco, Vera, Deyverson e Bernard, além de trazer Alonso de volta pela terceira vez. Ah! E, antes deles, se deve reconhecer também o acerto da contratação de Gustavo Scarpa. Obrigado, Felipão e a quem acreditou no veterano treinador.
Milito foi outra contratação acertada. Um comandante que consegue unir um elenco em torno de si e se identificar com um clube, como ele vem fazendo, é algo para se louvar e preservar. A Massa, por sua vez, também se dividindo entre críticas e cobranças construtivas e outras tantas manifestações passionais e irrefletidas, também cumpre o seu papel aos trancos e barrancos.
É esse o Atlético que busca a Glória Eterna. É nesse Atlético que eu acredito. É nesse Atlético cascudo, visceral, tático e estratégico de Milito que eu deposito minha confiança. É com esse Atlético que vamos até o fim.
Bica, bica eles, Galôôô!!