A perda do título da Copa do Brasil para o Flamengo foi doída, muito doída. Principalmente pela forma em que ocorreu. Mais uma vez, méritos do Urubu à parte, o próprio Atlético se constituiu no seu pior e principal adversário. O time da Gávea simplesmente cumpriu o seu papel e apenas isso.
Alguns diriam que o Galo perdeu o título no jogo de ida quando foi absurdamente passivo e, só saiu vivo na decisão, graças a um gol insuspeito e inesperado de Alan Kardec. “Ah! Até que o Atletico jogou mais na Arena do que semana passada, diriam outros tantos.
Sim, apenas isso. Mas, longe do que um time que disputa uma final deveria jogar. Semana passada não jogou nada. No jogo de volta foi tão somente muito ruim. Sem espírito de decisão. Sem sangue nos olhos.
Muito mal, o time alvinegro nestes dois jogos da final da Copa do Brasil foi apenas o retrato desta temporada. Irregular, irritante, lento, passivo em alguns momentos, impotente ofensivamente, defensivamente frágil, sem atitude e fazendo escolhas erradas.
O time chegou onde chegou aos trancos e barrancos. O emocional pesa e muito. Sei que o mental falhou de montão. Um erro aqui, uma escolha equivocada ali, uma indecisão acolá, um gol do adversário acontece e o time desmorona. Foi o que aconteceu no Maracanã e se refletiu na Arena.
E, como tudo o que acontece dentro de campo é consequência direta, reflexo direto, do que ocorre fora das quatro linhas, o time atleticano é a resultante da série de erros de gestão do futebol que vêm ocorrendo, particularmente após a conquista da Super Copa de 2022.
O que não significa que não tenha havido erros grosseiros antes disso. E que, por outro lado, não quer dizer igualmente que jogadores e treinador também não têm errado com irritante e preocupante frequência.
Em alguns lances os jogadores do Atlético estão demorando a tomar uma atitude, enquanto os adversários se antecipam e tomam a bola ou neutralizam suas jogadas. Essa dispersão, que ocorre em vários momentos dos jogos do Galo, não ocorre a meu ver porque os atletas querem ou porque não estão nem aí para o jogo.
Isso tudo vem ocorrendo por razões que transcendem às quatro linhas e não se resumem ao que acontece ou ocorreu nestes ou naqueles 90 minutos. E fazer um diagnóstico sério e profundo é algo mais que necessário, mais que urgente.
Embora os jogadores atleticanos sofram e muito, a sensação de impotência, os momentos de oscilação e de indecisão e o número excessivo de erros e de escolhas equivocadas, potencializam uma postura totalmente errada.
Não vou citar nomes. Não é o momento, pois os problemas são muito maiores e mais graves do que uma atuação pontual bastante ruim. Mas, alguns jogadores estão particularmente muito mal.
Pelas imagens a Massa presente na Arena também esteve indesejavelmente passiva. Não se via ninguém pulando. Torcedores tão dispersos quanto alguns jogadores. Lei da Física: causa e efeito. Tudo tem uma razão de ser. Até o acaso.
O scalt do primeiro tempo foi 100% favorável ao Galo. Números estéreis. O segundo tempo não foi muito diferente. Quem sempre esteve mais perto de abrir o placar foi o Flamengo que jogou tranquilo, fazendo jogo de cena em alguns momentos e se beneficiando dos erros do Atlético.
Nem tudo foram espinhos. A bem da verdade e da justiça há que se reconhecer que houve quem se destacasse positivamente. O fraquíssimo Everson, segundo alguns, salvou o Galo de uma derrota ridícula, fazendo três defesas espetaculares.
Ora, se este futebol fraco e inoperante do Atlético nos dois jogos diante do Flamengo serviram para mostrar que os problemas intramuros do clube são gravíssimos, também deixaram claro que é preciso sacudir o Glorioso, ou seja, o comando, o treinador, a comissão técnica e o elenco antes que a título da Libertadores seja igualmente jogada no lixo.
Falei em diagnóstico e, para isso, é preciso fazer uma análise holística e, ao mesmo tempo, pontual, para se buscar soluções eficazes de curto, médio e longo prazos. Ouvir o técnico, ouvir os atletas e saber ouvir também as críticas construtivas é o primeiro passo que a SAF atleticana deve dar.
Em sua coletiva depois do primeiro jogo da final da Copa do Brasil Milito não teve papas na língua ao afirmar que “Se eu (ele) tivesse decidido diferente, talvez estivéssemos melhor no Brasileiro, mas nas copas não estaríamos nas finais. É claro assim. É impossível jogar com 12 ou 14 jogadores nas três competições.. Se você cobre a cabeça, descobre os pés.”
E emendou: “A equipe está fazendo um grande esforço no aspecto físico e também no aspecto emocional. Jogar semifinal com o Vasco, semifinal com o River, volta da semifinal com o River, hoje jogar a primeira final (com o Flamengo)… Tudo isso em tão pouco tempo gera desgaste”.
Como não podia ser diferente, Milito se mostrou confiante para o jogo de volta, apesar da expressiva vantagem do rubro-negro carioca.
Mas, fez ainda o seguinte alerta: “Por outro lado, temos a recompensa de ser os privilegiados de jogar esta final, as semifinais que jogamos e a final que virá adiante na Copa Libertadores. Isso é uma motivação extra, porque parece fácil, mas é muito difícil poder jogar duas finais: Copa do Brasil e Copa Libertadores”.
E o que teriam os jogadores a dizer? Lavar a roupa suja nos interiores do clube é necessário. E um choque de realidade em quem tem sobre seus ombros a responsabilidade de conduzir esse sempre convulsivo e problemático gigante das Gerais é também fundamental e imprescindível.
Mas, atenção: se a decisão da Libertadores já tem data e local marcados e acontecerá no dia 30 de novembro próximo no Monumental de Nunez e, por isso, exige foco, trabalho e cuidados imediatos que não podem ser desprezados, sob pena do título virar fumaça, o planejamento da próxima temporada, i.e., de 2025, também é missão indispensável e essencial, independentemente do que vier a acontecer nesta final.
Daí porque é vital se pensar em curto, médio e longo prazos. A conquista da Libertadores se confirmada já esticará a temporada atual para o campeão, pois 10 dias depois o clube já terá o primeiro jogo do mundial do Catar. Para se chegar a final desta competição intercontinental serão dois os obstáculos a serem ultrapassados.
Com ou sem Supermundial na agenda, 2025 promete ser ainda mais intenso e complexo. Planejar elenco e a própria temporada com apuro, expertise e visão do todo é o mínimo que se espera de um clube do tamanho do Atlético. Isso sem falar no fato que o Galo não está 100% livre do rebaixamento no Brasileirão.
Não é exagero, portanto, dizer que o Atletico precisa passar por uma profunda reformulação de métodos e concepções de gestão do seu futebol, tanto quanto precisa de uma estratégia de curtíssimo prazo para reacender nos olhos de cada jogador aquele brilho de vencedor, aquele desejo de ser campeão e aquela autoconfiança que parece perdida.
Que os erros que devastaram o elenco neste 2024 e estão na raiz de um ano tão irregular e tão irritante sirvam de lição e não aconteçam nunca mais. Sem planejamento, sem os cuidados necessários e fazendo mais do mesmo, não se pode esperar nada de bom.
Foto: Pedro Souza / Flickr Atlético Mineiro.