Antes desse primeiro jogo do Galo contra o River Plate na Arena MRV pela semifinal da Libertadores, a atleticana @jemeireles_ escreveu em suas redes sociais que “o Atlético é um ser coletivo, ele é um, ele é vários. Ele é eu e você! É um nome no singular que se tornou plural. O Galo nunca luta sozinho”. E para o Galista @CrisCastroGalo essa última frase é uma sacada de gênio. E eu assino embaixo.
E é sobre este sentimento ímpar e imensurável que repousa em um binômio mais que especial, identidade e pertencimento, que vou falar neste artigo. Um sentimento que moldou a torcida mais argentina do Brasil. Uma torcida que inúmeras vezes derrotou o vento e que, por isso, se tornou a mais respeitada e temida do Brasil.
Em meio a uma pluralidade de emoções que esse Atlético faz sopitar onde quer que esteja um atleticano, um fenômeno vem ocorrendo entra ano, sai ano: no Atlético você entra funcionário e sai torcedor. E os exemplos são fartos. Muitos e muitos são os jogadores que nasceram fora das Gerais, que na infância e na adolescência tinham outras paixões a lhes inflamar os corações e que, depois de vestir o manto sagrado, foram tomados por um amor imensurável e definitivo por este Galo maluco e apaixonante.
Oldair Barchi, capitão do time campeão brasileiro de 71, paulista de São Carlos, revelado pelo Palmeiras, com passagens por Fluminense, Vasco e Seleção Brasileira, que por BH ficou até o fim de sua vida, torcendo apaixonadamente pelo Atletico. Dadá Maravilha, Jorge Valença, Paulo Roberto Prestes, Negrini, Coelho, Renaldo, o baiano que veio do Paraná, Marques, Léo Silva, Rever, Victor, Pierre, Donizete, Guilherme’s (com apóstrofo mesmo) e Diego Tardelli, são outros exemplos emblemáticos.
Você sabia que vários são os ex-jogadores atleticanos que adquiriram camarotes na Arena? Marcos Rocha é um deles. Entre os gringos não é diferente. Duvida? Pergunte ao Dátolo, ao Lucas Pratto, a Olivera. Se Cincunegui, o Deus da raça, ainda estivesse entre nós seria outra testemunha desse fenômeno. E, para você, Júnior Alonso e Alan Franco, por exemplo, estariam nesta lista?
Reza a lenda que este fenômeno é tão forte, imensurável e avassalador que consegue romper qualquer barreira e se faz presente em outras dimensões. E justificam: como explicar o milagre de São Victor diante do Tijuana ao isolar de bico a penalidade cobrada por Riascos, o apagão do Horto na semifinal da Libertadores de 2013, a sofrida e apoteótica disputa de pênaltis vencida pelo Galo e que levou o Glorioso à final contra o Olímpia do Paraguai?
E como explicar aquele incrível escorregão do atacante paraguaio que tinha o gol atleticano inteiramente à sua mercê depois de passar pelo santo goleiro alvinegro? Teriam sido os espíritos de atleticanos já falecidos que o derrubaram, como muitos acreditam? Estaria o sobrenatural de Almeida por trás daquilo? Ou quem sabe a grama do salão de festas atleticano, apesar de verde, também se rendeu à atleticanidade e resolveu gritar: Aqui é Galôôô, Pô!!!
Confesso que naquela hora, estando atrás daquele gol, gelado e paralisado, lembrei-me de meu velho e saudoso pai, do meu tio e padrinho, o velho Lindolfo, do torcedor símbolo do Atlético, o Sempre, de Zé das Camisas, de Irineu Fernandes, da Lambreta, de Victor Bastos, de Júlio, o mais amigo, de Raimundo Suzano, de Raimundo Loyola, do velho Legume, de Gregório, de Kafunga, de Roberto Drummond, de Xico Antunes, de Moreno Neto, de Dona Alice Neves, de Karango, de Fábio Fonseca, de Adelchi Ziller, de Carlayle Guimarães, de Betinho Naves, de Barbatana, de Walmir Pereira, de Cecivaldo Bentes, o Tite, de Mário de Castro, de Guará, de Mussula, de Wilson de Oliveira, de Chaim Mitre, de Nelson Campos, de Elias Kalil, de Nelson Thibau, da velha Zulmira, aquela atleticana que nada entendia de futebol, mas do Atlético sabia de tudo e de muitos outros.
Identificação e pertencimento são também a base do amálgama que se forma automaticamente entre time e torcida quando, nas arquibancadas e nas gerais de qualquer estádio, a Massa amarra a chuteiras de cada jogador atleticano com as suas próprias veias. E o vento que se cuide. Aliás, é isso que está acontecendo nesta reta final de temporada, a cada passo que o Atlético dá em busca de mais uma Copa do Brasil e, claro, da cobiçada GLÓRIA ETERNA. Viram o que aconteceu na Arena neste primeiro jogo diante do River?
Essa entidade coletiva, visível nas arquibancadas e nas gerais, nos bares mundo afora e onde estiver um torcedor alvinegro, também vem se materializando dentro de campo. O time de Milito é um corpo complexo onde os atletas funcionam como órgãos diferentes entre si, cada qual cumprindo as suas funções e vibrando em uma nota só. Assim, se um deles não estiver em um bom dia, os outros se superam, colocando o interesse do clube acima de tudo. Em consequência, as ideias de jogo do treinador argentino começam a fluir. É esse time que se mostra cada vez mais cascudo, amadurecido, copeiro e que traz no bico da chuteira a alma, o coração e a paixão de milhões de atleticanos espalhados por este mundão de meu Deus, como dizia a saudosa Zulmira.
É esse Atletico místico, múltiplo e plural que carrega nossa torcida, nossa esperança, nossa fé e nossa certeza de que ser feliz é possível. É esse Atletico que não nos deixa sentir solitários. É esse Atletico que nos mostra que, apesar dos tropeços e dos males inevitáveis, a vida tem sentido. É por tudo isso que esse Atletico nunca luta sozinho. Esse Atletico somos nós, somos todos aqueles marcados em preto e branco na alma e no coração.
É esse Atletico que nos leva a gritar aos quatro ventos: Bica, bica eles Galôôô!!!