Em fevereiro de 2024 escrevi que, desde que o Atlético havia se transformado em SAF, o clube vinha colecionando vexames institucionais. Estamos no fim de novembro, quase dezembro de 2025, e essa realidade segue intacta. Escrevo este texto na sala de embarque do Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi, três dias após mais um vexame do Galo — desta vez na final da Sul-Americana, contra o modesto Lanús (ARG).
Desde que virou SAF o Atlético tem colecionado vergonhas institucionais. Hoje foi só mais uma. Donos que não entendem sua gente e muito menos o futebol. Parece o Galo, tem o mesmo nome e as mesmas cores, mas é uma versão pasteurizada do que já foi uma instituição popular.
— Breno Delfino Alves (@BrenoDelfino_) February 4, 2024
A Massa, como sempre, fez sua parte! Foram mais de 20 mil atleticanos no Defensores del Chaco, dando tudo de si para empurrar o grande amor de suas vidas a mais uma conquista. Durante alguns dias, Assunção virou a capital mundial do Galo, mas quando a bola rolou, virou a capital mundial granate, tamanho o baile dado pelos argentinos na arquibancada.
Eu não estava no meio da torcida; posso falar apenas do que vi no setor da imprensa, e achei até bastante impressionante o que os atleticanos fizeram em alguns momentos ao longo da partida. Apesar disso, segundo relatos de diversos amigos na arquibancada, faltou gogó, faltou alento — principalmente por parte da maior organizada do clube, que sequer conseguiu colocar muitos instrumentos no Paraguai.
Dentro de campo não tem muito o que falar, né? O time colheu os frutos do que foi ao longo de toda a temporada de 2025: fraco, apático e displicente. Pelo segundo ano consecutivo o Atlético perde uma final continental após um atleta sair do banco de reservas e perder dois gols cara a cara. A bola pune, jogador ruim uma hora tem que entrar e ele sempre cobra seu preço. Não tem como mascarar o planejamento porco mais uma vez.
Em outros tempos, a Massa lotaria as arquibancadas do Mineirão mesmo após uma derrota dolorida como essa, pelo simples prazer de gritar Galo — como sempre foi, desde 1908. Apesar disso, as arquibancadas da Arena MRV vão estar vazias para o duelo contra o Flamengo logo mais, às 21:30 desta terça-feira (25). E o que causa esse abandono? A falta de pertencimento.
Não é um problema exclusivo da partida de hoje, mas tomando-a como exemplo, há ingressos de mais de R$300,00 à venda na bilheteria. O ingresso mais barato para não sócios começa em R$83,00 e o mais caro chega a R$324,00. A Massa de verdade já não frequenta a Arena MRV há algum tempo — e isso, somado aos amplos fracassos e às promessas vazias feitas aos quatro ventos, cria uma desconexão muito grande entre clube e torcida.
Até entendo os processos que os que estão dentro do ar-condicionado hoje tentam implementar, e acho que aos poucos o clube vai sim se estruturar — mas na visão deles do que é o correto. Uma visão elitista, pouco democrática e voltada para o ego deles. Hoje não existe mais o NOSSO GALO; existe o Galo deles.
Seguimos com o mesmo nome e as mesmas cores — alcunha esta que sempre carregamos com muito orgulho, afinal, ser atleticano é nossa identidade, nosso DNA. Mas o que existe hoje é uma versão mais pasteurizada: tem cara de Galo, mas não tem alma de Galo. Não é mais o time de preto, de favelado, mas que quando joga o Mineirão fica lotado. É o time dos amigos dos R’s, que a Arena fica lotada quando a fase é boa, quando o playboy quer tirar foto para postar nas redes sociais.
O Galo é o preto e o branco, o rico e o pobre, o patrão e a empregada, todos juntos, unidos em um único grito de GALO que ecoa aos quatro cantos do mundo. É o Ubaldo que não jogou no Cruzeiro porque “lá eles não gostam de preto”; é o Rei com seu punho cerrado nas barbas da ditadura; é a Massa que fica no sol, mas é fiel como a sombra; é a torcida que canta o hino a plenos pulmões mesmo depois do rebaixamento — que “empurra as bichas” nos clássicos.
Essa torcida está aí — esteve inclusive em Assunção, muitos viajando dois dias de ônibus —, mas ela precisa de carinho, precisa ser valorizada. O Galo sem sua torcida não é nada. Estamos acostumados a torcer contra o vento e já enfrentamos tempestades piores; só não esperávamos que o furacão viria de dentro, de onde mais amamos, que a razão de nossas vidas tem feito de tudo para ficar mais longe da gente.